Ele, minha bolha de um metro e meio e eu

Tantos assuntos na cabeça, mas nenhum me faz sentar em uma cadeira e transcrevê-los em palavras.
É a situação do Brasil, é uma notícia que eu li no jornal, é um filme bacana que eu assisti ontem, é um livro que me fez pensar horas e horas no seu conteúdo, é aquela música que me despertou uma atenção diferente, é aquela notícia de fofoca que faz com que meus neurônios padeçam a cada dia com tanta inutilidade.
Mas parece que nesse mundo todo, que é tão complexo e acontecem tantas coisas, só uma delas me faz sentar e descrever com detalhes e minúcias que me corroem até que eu as coloque em um papel. Isso é o amor.
Seria egoísmo, egocentrismo ficar envolta na minha bolha e somente aquilo que acontece dentro dela me interesse? Será que eu deveria me preocupar mais com a situação do país, escrever sobre a diferença social, o aumento do salário mínimo, a vida dos famosos, o Natal, o ano novo, dar recados de paz, saúde e alegria? Será? Poderia também fazer uma coisa diferente, um diálogo, criar uma situação, mas não consigo...ultimamente só o que está dentro da minha bolha me interessa. Deve ser fase, espero.
Minha bolha hoje foi furada com uma agulha, uma agulha que fez uma perfuração digna de uma furadeira...Amanhã já estará cicatrizada, sim, mas hoje ela esta sangrando mais uma vez.
Gostaria que ele compartilhasse comigo das minhas loucuras e dos meus gostos, mas não, ele jamais entenderia aquele filme que eu assisti ontem, ele jamais discutiria comigo o livro que eu estou lendo, ele jamais escutaria comigo aquela musica que eu canso de ouvir todos os dias, ele jamais me entenderia quando eu dissertasse sobre os meus sonhos e as minhas neuroses, minhas futilidades e meus ideais. Ele jamais me entenderia em qualquer circunstância, ele não enxerga a vida como eu, seus ideais são diferentes, somos totalmente paradoxais. Na verdade, lá no fundo eu o acho um verdadeiro idiota. E aí eu me enxergo ao seu lado, outra idiota. Não quero alguém que compartilhe dos meus gostos, nem das minhas neuroses, nem dos meus livros, nem das minhas músicas. Não quero me projetar no outro. Só o queria do meu lado, ainda que eu o ache um idiota, mas talvez eu o veja assim porque ele não está comigo.
Hoje, ele furou a minha bolha egocêntrica que só olha a um metro e meio de distância. Passou disso, não me importa. Fui filha única por 12 anos e sou mimada sim. Ele tb é mimado. Acho que é a única coisa que temos em comum. Gostaria que da próxima vez, ele batesse na porta da bolha e pedisse pra entrar. É tão simples, mas existem coisas que são complexas por si próprias e ele é uma dessas coisas.
Ele, que ainda que não que compartilhe das mesmas loucuras que as minhas, nem dos mesmos filmes, nem dos mesmos gostos, nem das mesmas musicas, nem dos mesmos objetivos, é ele mais do que qualquer outra situação ou assunto, que me faz sentar e transcrever o que está condensado dentro da minha bolha. E sinceramente, quero que fique por aqui. No final do ano. E que a minha bolha fique intacta que os próximos que entrarem nela, entrem com meu consentimento e não mexam com a minha razão. Ele é o assunto do final de ano, ele e é claro a minha bolha egocêntrica, meu mundinho que compartilho com vcs.
Bom ano novo,
Sem ex, bolhas, e que nossas mentes se abram para o que está além do metro e meio de distância.
bjs
Paty