Sophia


Definir a vida é definir um grande palco de teatro, onde nós, protagonistas, encenamos nossos papéis, aqueles papéis que cabem melhor para aquele tipo de situação. O papel mais conveniente e aquele que apetece mais naquele momento.
Como diria um amigo meu, de quem nunca me esquecerei “eu sou eu, em minha circunstancia”. Foi uma das frases mais profundas e inteligentes que escutei em toda a minha vida. E dificilmente será superada. Simples, sucinta, e de fácil interpretação. E ainda assim, tão profunda, que me faz pensar nela até hoje.
As coisas passam, as situações mudam, nunca mais vi esse amigo, mas penso nessa frase, e sempre que reflito sobre ela minha cabeça dá voltas.
Nada fez tanto sentido na minha vida quanto quando a escutei. E imagino Sophia naquele belo palco que me lembra o classicismo, com aquela roupa que lhe cai tão bem, linda e exuberante, se sentindo o ser mais fascinante do universo. Como é bela Sophia e mais e mais bela fica, quando se sente bela.
Transpira sensualidade, mas possui aquele ar de menina que encanta os olhos daqueles que param para observá-la. E Sophia os trata como quer, sempre pensando no que pode receber de volta, aonde poderá tirar proveito das situações malucas que a rodeiam. Dentro da sua mente, as pessoas são más, e não a admiram de verdade, nem querem conhecê-la, muito menos escutarem o que Sophia tem a dizer. Talvez sua melhor amiga a escute, mas somente por educação, porque no fundo deve achar Sophia uma completa idiota.
Mas de idiota, a bela Sophia não tem nada, e desde o dia em que fez questão de deixar toda a sua inocência para trás, ela se tornou muito mais lúcida e racional. Consegue captar com facilidade a energia das pessoas, e sabe que nunca será capaz de amar e ser amada, só os insanos amam e se apaixonam, Sophia prefere conhecer o lado imundo dos que a rodeiam, pois tem nojo do que é velado, prefere sempre observar com os olhos sem lentes e ver o que as pessoas não conseguem enxergar, ver a hipocrisia, o sistema falido e ao mesmo tempo tão cultuado que se torna algo como uma religião, onde os fiéis capitalistas rezam a miséria, a desigualdade, os preceitos e a moralidade, que alguém um dia desses inventou e Sophia é obrigada a seguir. E creiam, segue do melhor modo possível, afinal, precisa sobreviver, e usa trajes lindos, interpreta lindamente de uma maneira que às vezes acha que aquilo tudo pode ser real.
Sophia demonstra ter preconceitos, moral, demonstra achar graça em bobagens e se revoltar contra o que todos se revoltam, a falar sempre de acordo com o Senso comum que todos tanto prezam, e a escutar o que todos dizem que é a boa música. Assiste os filmes que estão em cartaz, comenta com os amigos e diz que é feliz. Que é feliz por ter saúde, por viver em um mundo abençoado, por ter uma família que a ama, e por ser bela, afinal do que mais uma mulher precisa para sobreviver?
O sonho de Sophia na peça é ter 4 lindo filhos e um belo marido que a faça muito feliz, como nos contos de fada que a sua babá lia para ela, há uns 07 anos atrás. Seu sonho é ser cada vez mais insana, é poder fazer parte dessa peça, sem precisar decorar um papel, sem precisar trocar de roupa, e achando que talvez um dia alguém a julgue por ser perfeita demais, e ela realmente acredite nisso, acredite em seus sonhos e que tudo que sua mãe e a televisão que ela tanto gostava de assistir, estivessem prometendo e que um dia se tornaria realidade, um mundo de sonhos.
Mas Sophia ainda não se converteu, continua sendo a atriz principal dessa peça que ela clama para que nunca acabe, e quem sabe um dia ela possa fazer parte disso, sem questionar, sem pensar e sem se perguntar nada.
Enquanto isso, Sophia, ainda lúcida vai sendo ela mesma, claro em sua cisrcustância.

bjs
Paty 02/09/06