Ainda Não Captei

Abrindo a boca e contraindo os músculos de dois em dois minutos. Assim que eu ando passando a maioria dos meus dias, com o pensamento bem distante dessas paredes geladas com pessoas felizes por baterem seu ponto e almoçarem com cartão empresarial. Pessoas felizes por acordarem com seu despertador daquele celular de última geração que não serve pra mais nada além de fazer e receber ligações. Felizes por enfrentarem fila para condução, para almoçar, para entrar na empresa, para entrar na universidade, para ir ao banheiro, para pagar conta, para resolver problemas. Felizes por poderem comprar livros de auto ajuda para tornarem-se mais felizes e contentes do que já são. Felizes por fazerem parte de um grupo e serem aceitos pela maioria. Felizes por terem ido semana passada naquela baladinha superrrrr massa com pessoas cools e terem "passado o rodo" na festa inteira, com aquele bando de gostosas dando mole. Felizes por andarem com a sua pastinha embaixo do braço esperando uma promoção no trabalho para encherem mais ainda o cú do partão de dinheiro para que ele usufrua com a sua vidinha medíocre mais muito, muito mais bem aproveitada do que a minha. Felizes por serem brasileiros, da terra abençoada por deus, terra do samba, do carnaval, da mulher sarada e da malandragem. Felizes por passarem mais tempo na rua, entre trajetos e avenidas, salas fechadas e de aula, do que na sua própria casa com seus familiares. Felizes por terem uma religião e uma vaga no céu com o senhor jesus cristo filho de deus, que se fudeu tanto pra nada, porque desde aquela época tudo continua a mesma merda. Com a excessão de que a cada dia que passa, mesmo com o horror do lado, as pessoas com seus olhos que não enxergam além da bolha de um metro e meio que está envolta nelas, acham que são felizes. E são. E talvez eu tenha inveja de td isso dessa felicidade que irradia tanto que eu ainda não consegui captar.