Reflexões

Em meio a estes tantos que me rodeiam, se misturam os cheiros, as imagens se tornam prolixas, confusas, o ar fica abafado e pesado como chumbo, assim como a massa do meu corpo imundo que por mais que eu tente limpar, se infiltra perfeitamente em meio a toda essa sujeira que circunda.
Um clima pútrido percorre os ares, são como se as minhas costas pesassem 10 quilos a mais e esses 10 quilos surreais certamente são os fardos que a cada nova situação ganham algumas gramas.
Isso é acumulativo, subtraí-los é algo inviável, portanto só me resta colocá-los sob um pano e fingir que nada está me sujando, sujando toda a minha vida, a minha cor, o meu brilho nos olhos, meu sorriso branco. Farei como Dorian Gray e colocarei cada sujeira, cada pedaço podre da minha alma bem escondida onde eu não possa ver, onde aquilo não me atinja, onde tudo isso possa apodrecer bem longe dos meus olhos.
Talvez um dia quem sabe não me apeteça dar uma olhada debaixo desse pano só para eu tentar me imaginar convivendo com aquilo sob as minhas costas, aquilo tudo que faz parte de mim, que é tão asqueroso que certamente prefiro não me lembrar e sim, tentar gozar das coisas boas que a vida me proporciona.
Mas ainda que eu tente desesperadamente me fantasiar com a aparente bela e fina máscara que a sociedade adotou, sinto que em algum lugar ela não se encaixa, mas ninguém percebe, na verdade nem eu sei onde é, só sei que ela não fica com o mesmo formato da minha face.
E é nesse lugar que eu nem sei onde fica que se encontram as dicotomias que me fazem tão doente...Lá se esconde o egoísmo, o sentimento, os conceitos, a saudade, ele que me persegue como que em um pesadelo contínuo e perene e que eu temo que não tenha fim.
Às vezes é bom espiar o quadro, às vezes é bom não estar bem, às vezes é bom chorar, às vezes é bom enxergar tudo cinza e não ter perspectivas e sentir-se vazia por dentro e como um chumbo por fora envolto de pessoas podres que esbarram em mim e logo me vem as narinas aquele cheiro de perfume barato que me enjoa, assim como aquele ar melancólico do centro da cidade que me deixa suja.
Mas às vezes é bom, pois todos precisamos reencontrar em algum momento o que escondemos e ainda que aquilo me faça chorar e as lágrimas escorram pela falha da máscara, aquilo que está coberto pelo pando sou eu, o meu reflexo, a minha alma pintada por um grande artista, sem máscaras, sem censuras e sem falhas.

Paty 15/08/2006.