Hagia Sophia

Hagia Sophia é uma Igreja que está localizada em Istambul, Turquia, além disso, em grego Hagia Sophia significa Santa Sophia, que é a suprema sabedoria, figura feminina da alma divina, metade mulher, metade anjo.

28.6.07

Noite de Natal

Théo era um menino mto travesso, porém um doce de criança. Seus pais sempre o elogiavam para todos os seus amigos e parentes, e tinham um enorme orgulho do garoto, de sua afeição, seu desempenho escolar e seu relacionamento com as outras pessoas.
Sua mãe sempre se recorda de uma história, em que Théo ansioso pelo presente de Natal ficou a noite toda debruçado na janela com a expectativa de talvez ver o papai Noel. Quando se deram por conta o garoto estava dormindo, quietinho sentado com as mãos entre as pernas e a cabeça por cima destas. Seus pais tiraram sua foto, que se encontrava em um belo quadro que ficava na parede do centro da sala.
Théo cresceu feliz, com o carinho de seus pais, amigos e tudo o que essas pessoas e a vida podiam lhe oferecer. Quando ele completou 14 anos começou a contar algumas histórias que não eram totalmente mentira, mas algumas um pouco distorcidas, do modo como ele gostaria que tivesse acontecido, sempre se colocando como vítima das situações, assim sabia que conseguiria sempre o que quisesse. Isso sempre funcionava, logo, Théo continuou com as suas invenções malucas que pensava ele, eram somente artifícios ingênuos que juntando com seu jeito meigo o faziam conquistar o objetivo final.
No seu aniversário de 18 anos, se meteu em uma confusão com alguns garotos da sua faculdade, e levou um empurrão de um deles. Quando a história foi parar na coordenadoria, Théo afirmou que havia sido espancado, chorou e foi capaz de fazer marcas em si próprio para dizer que fora machucado. Seus belos olhos azuis, seu carisma e seu jeito angelical venceram, e ele mais uma vez conseguiu o que queria.
O tempo foi passando, Théo foi envelhecendo e se tornando um vencedor, se formou, arrumou um belo emprego na sua áera, fez pós graduação e inúmeras viagens ao exterior. Théo só tinha um empecilho em sua vida: não conseguia ficar com apenas uma garota e se apaixonar por ela. Para ele todas eram iguais, mas para elas ele era um deus, com sua beleza, seu jeito imponente e ao mesmo tempo frágil e indefeso, e seu status social.
Não que o incomodasse ser um solteirão aos 40, muito pelo contrário, mas a sociedade cobrava dele. Ele então, em uma de suas viagens, namorou uma gaúcha e a trouxe para SP, casando-se com ela no mês seguinte. Não tiveram filhos pois Théo descobriu que era estério. No fundo no fundo, Théo até gostava dessa situação, pois podia se fazer de vítima para as suas outras mulheres e fazer o tipo, minha mulher não me ama pq n posso lhe dar um filho. Mas a verdade é que Sophia o amava. E muito.
Aos 50 Sophia faleceu, Théo foi ao seu enterro, fingiu algumas lágrimas e continuou por aí, vagando em uma vida sem sentido, com a sua beleza inexplicável, suas mulheres sem identidade, sem mais objetivos, pois aos 30 não tinha mais para onde subir, e ainda contando as suas belas e falsas histórias que fazem dele uma figura assim, inesquecível, como aquele quadro de quando a inocência estampava seu rosto naquele dia de Natal. Figura que hoje estampa seu túmulo, por conta daquele dia de Natal do ano passado em que Théo, sozinho, sem ninguém para se fazer de vítima, escolheu ele próprio para isso. E conseguiu. Tanta pena resultou em uma bala na cabeça, e garrafas de wisky em sua volta, do mesmo modo como ele imaginou quando planejava sua morte, desejando mais uma vez ser o centro das atenções, da forma mais trágica possível.

bjs
Paty

26.6.07

No Centro da Cidade

O prédio imponente erguia-se. Era uma grande empresa, uma das maiores. O edifício, de incontáveis andares, era de um cinza morto, como todas as demais construções ao seu redor. Dentro dele, centenas de pessoas espremiam-se em apertados cubículos, atarefadas com papéis, planilhas, cálculos, ou ocupavam-se com máquinas de impressão no insuportável calor dos andares mais baixos. Nos andares superiores ficava a diretoria, onde todos os dias homens atracavam-se de forma insana em mesas de reuniões para decidir os caminhos a serem tomados pela firma. E tudo sempre funcionara na mais perfeita harmonia, como em um complexo mecanismo, em que cada funcionário era uma pequena engrenagem essencial à movimentação da máquina inteira.
Certo dia um rapaz ausentou-se por motivo de doença. Trabalhava no décimo segundo andar, sua função era pequena, porém vital: a organização das pastas, documentos e relatórios a serem usados nas reuniões da gerência de seu setor e a entrega dos mesmos aos seus respectivos lugares. Porém, no dia da sua inesperada ausência os papéis continuaram sendo entregues em seus destinos com perfeita normalidade. É evidente que outros funcionários encarregaram-se da função do rapaz e supriram a falta de mão-de-obra.
Dois dias depois, ainda ausente o rapaz, a empresa foi informada: complicou-se seu estado de saúde e ele estaria em licença médica por dois meses. E esteve. Mas o fato é que, mesmo sem nenhuma nova contratação para suprir a ausência do rapaz, tudo ainda funcionava com a precisão de um relógio, de modo que nenhum papel deixou de ser entregue durante esse período. O gerente foi informado do ocorrido e, tendo em vista o quão descartável provou ser a função do rapaz, demitiu-o. E não fez só isso: além dele, mais quatro companheiros de função foram despedidos também por motivo de, segundo a empresa, “corte de gastos”.
Passou-se um mês e tudo corria normalmente: as pastas ainda eram entregues como antes, senão melhor. Sim, pois após as demissões, observou-se que o número de enganos em relação ao destino de cada documento caiu espantosamente. Convencido da total inutilidade dos trabalhadores do setor de comunicação interna, o gerente demitiu-os todos. Eram nove pessoas ao total, mais os cinco já demitidos. E observou-se o mesmo inexplicável fenômeno: as pastas continuavam a ser entregues com total precisão. Agora, não só o número de erros caíra, como tornara-se nulo. A ausência de pessoas destinadas a executar uma função era, portanto, mais eficiente que a presença delas.
O gerente viu aí uma brilhante solução para diminuir abruptamente os gastos que a empresa tinha, demitindo, primeiramente, todos os funcionários do setor de limpeza. E, como esperado, nem um papel sequer acumulara-se nos corredores e todo o lixo produzido sumia, misteriosamente encaminhado ao local de coleta. Depois foram os funcionários encarregados das máquinas de impressão. E, mesmo estando todos demitidos, não deixou de ser impressa nem mesmo uma página do mais banal relatório. Até que o gerente recebeu a notícia de que ele mesmo fora demitido.
Não só ele como todos os demais funcionários perderam seus empregos. Não havia mais ninguém se espremendo nos cubículos, já não se ouvia mais o barulho monótono e incômodo das máquinas de impressão e nenhuma discussão era travada nas reuniões dos andares superiores. Somente o dono da empresa habitava aquele prédio morto e silencioso, sentado em sua cadeira no mais alto andar, tentando entender como sem nem mesmo um funcionário tudo ainda corria normalmente. Foi então que começou a ouvir as vozes, vindas das paredes, e percebeu que a empresa, que crescera tanto, já não precisava mais do ser humano. Criara vida própria.

* Texto do Pietro, baixista, futuro historiador que me contou hj que escrevia tb.

25.6.07

Sozinha

Pesado. É a palavra que eu acabei de ler e descreve perfeitamente o que eu sinto agora. Ar pesado, clima pesado, corpo pesado, consciênsia pesada, pensamentos pesados, roupa pesada, tempo pesado.
É tão bom qnd a gente toma aquele banho e fica leve, ou quando a gente recebe uma boa notícia e fica contente, como se o peso e a gravidade não existissem. É algo como se estivéssemos flutuando por aí sem rumo. E o engraçado é pensar em como esses momentos são raros e contáveis ao longo da vida.
Toda manhã quando o relógio toca as 6 da manhã, eu penso que tudo vai acontecer de novo, do mesmo jeito que aconteceu ontem. Não penso em nada bom ou ruim, apenas em fehar os olhos e continuar aquele sonho bom, onde eles estavam tocando e eu sem nenhum tipo de preocupação ou insegurança.
Aí eu me lembro daquele livro que eu estou lendo, que conta aquela história que eu tô adorando tanto. Em seguida eu lembro dele que me indicou o livro. Desvio o pensamento, mas quando vejo estou falando sozinha, e conversando com meu amigo imaginário sobre ele e o porque de td isso estar acontecendo. Ele me dá uns conselhos, mas de nada servem pq ele tb está apaixonado por uma pirralha de 18 que não sabe nem o q que prestar no vestibular e tem um pierceng na boca.
O que ele pode me dizer???? Que eu estou errada?? Ele simplesmente n tem moral pra me falar nada. Quando eu saio de casa e pego o ônibus, começo a observar as pessoas e a pensar em quem são elas e o porque estamos aqui, pra onde vamos e da onde viemos. Essas perguntas costumam vir de uma vez, não nessa mesma ordem, mas quase todo dia elas vem.
Aí vem a parte nostálgica do dia, em que eu começo a me lembrar do passado ou a fantasiar o que eu gostaria que tivesse acontecido. Ou então fico formulando historinhas que possivelmente nunca acontecerão p/ distrair a cabeça.
Entro no trabalho, trabalho, e volto pra casa. Tiro meus sapatos apertados e a roupa que me sufoca, leio mais um pedaço daquele livro delicioso, esperando que ele me ligue e interrompa toda aquela história, mas isso dificilmente acontece. Me resta então deitar, para mais um dia, igual ontem, quando eu acordo e penso em como seria bom dormir por mais 10 dias seguidos e não esperar a ligação dele nem uma atitude, nem questionar a minha existencia nem a de ninguem. Então eu penso no meu livro, e em como ele está interessante e nos outros que eu ainda tenho q ler. Paro de pensar essas bobagens e volto a ler. Depois deito e durmo.
Sozinha.

bjs
Paty