Ultima Vez

Chega a ser ridículo pensar nele. Faz tanto tempo que não caberia mais recordá-lo, chega a ser irracional e aí eu percebo como a gente é animal e movido a instintos.
Isso toma forma quando o cheiro dele me vem à mente, e eu aspiro aquilo em uma ânsia que meu coração chega a disparar por alguns segundos com as breves recordações, os flashes que preenchem as lacunas dos meus dias.
Tenho saudades do modo como ele me olhava e saudades de quando ele não me dizia nada, aliás, nem precisava, seus olhos me diziam tudo. Saudades daquela segurança filha da puta que me deixava encantada, saudades daqueles ombros perfeitos, daquelas mãos e do que elas faziam, saudades de saber que ele me queria e não demonstrava e de quando eu me dava por vencida e ele dava um sinal de fumaça. Saudades do modo como eu reagia, das minhas pernas tremendo, das minhas mãos sem comando, do meu entusiasmo ao acordar e dos meus pensamentos ao me deitar.
Saudades dos nossos assuntos tão particulares, e daquele cheiro de morte que nos circundava, pois eu tinha certeza de que aquilo era efêmero e como a morte, aquilo tudo acabaria a qualquer momento me deixando com essa saudade imensa.
Chega a ser bizarro isso ainda me vir à mente, e eu ter a nítida impressão de que ainda posso amá-lo mais uma vez, de que tudo aquilo pode acontecer de novo e irá ser muito breve. E mais certeza ainda de que novamente a morte chegará e levará embora aquele cheiro, aquela certeza, aqueles ombros...Tudo isso ficará condensando dentro dos meus pensamentos que virão como flashes, e me farão reviver tudo novamente.
Reviver aquela paixão irracional, ridícula, sem o menor sentido, mas que até hoje não saí da minha cabeça como uma equação matemática pendente. Como é possível sentir isso por uma pessoa tão diferente de você? Como é possível sentir isso por uma pessoa que nunca te amou? Não amou, mas desejou, intensamente assim como eu o desejei e tenho certeza de que nunca mais sairei dos seus pensamentos também.
Gostaria de compreender melhor, ser mais racional, mais lúcida, ainda que isso me custasse ser igual às outras pessoas, sei que seria melhor assim.
Mas hoje me darei ao direito pela última vez de me lembrar dele ao deitar, de tudo o que passamos em tão pouco tempo, das suas palavras e de tudo o mais que me entorpeceu como droga, droga ilegal e perigosa, e que hoje me darei ao direto de usá-la, pela ultima vez.

bjs

Paty