Muito Prazer

Aquela rua não faz parte da minha vida, nem seus belos carros que ficam lá estacionados. Aquelas pessoas, geralmente mais velhas não sabem meu nome e eu nem sequer imagino como sejam as suas famílias. Aquele cantinho que eu lia meus livros não existe mais, nem as suas paredes que estavam sempre por pintar. Desfez-se aquele sentimento que demorou para se desprender de mim, ele se foi, talvez nunca mais o veja. Mas ele sabe quem eu sou, de onde eu vim, o que eu gosto e o que eu penso. Todo o resto me fala oi, me pergunta se estou bem, mas na verdade pouco se importam com isso. Aquele monte de amigas que ficavam horas no telefone comigo conversando sobre as nossas futilidades já casaram, ou não me ligam mais. Não porque não se importem comigo, pelo contrário, é que não tem mais o que discutir nem conversar. Somos pessoas diferente de quando nos conhecemos. Tive que aprender a ser diferente para me adaptar aos ois e tchaus diários de quem tá pouco se fudendo pra tudo. Na verdade ainda não aprendi a ser assim, mas aos poucos a gente vai se transformando eu sei que em breve eu conseguirei não sentir mais falta da época em que eu ficava doente e meus amigos da escola iam me visitar em casa e passavam a tarde comigo. Não sentirei mais saudades das festas surpresas de aniversário que me faziam e das briguinhas idiotas da escola que eram a coisa mais importante pra mim. Saudades da minha cachorra que ficava deitada do meu lado enqnt eu lia os livros da Agatha Christie a tarde toda, sem nda de mais importante pra resolver. Todos os meus vizinhos sabiam meu nome, qnts anos eu tinha, ainda que nem todos gostassem de mim. Mas para eles eu era alguém. Hoje sou só mais um corpo que transita por aí, cumprindo as suas obrigações para ser aceita em uma coisa que eu ainda nem descobri pra que serve e o que é.

Eu me pergunto

Aí às vezes eu me pergunto: "pra quê?" e me vêm na cabeça sempre as imagens do passado, que era qnd eu n tinha nenhum tipo de preocupação e a minha maior encanação era a espinha nova que nascia no meu rosto que estava ridículo. Mal sabia eu que 10 anos depois as espinhas continuariam e o resto todo pioraria. Achei que quando eu crescesse as coisas iam ser mais legais, que eu ia ter um monte de namorados bacanas e a essa altura já estaria casada e com um filho, morando na minha casa com o meu carro na garagem. Pois é, nada disso ainda está acontecendo e duvido que venha acontecer assim nessa mesma ordem tão cedo. Vc cresce e descobre que as coisas não são tão fáceis quanto vc imaginava. Vc se olha no espelho e vê que ainda que os seios tenham crescido um pouco, a espinha da menina ainda está lá e quando ela sai aparece outra pra lembrar que eu nunca me livrarei delas. Arrumei um emprego que me adestrou direitinho, aprendi a falar sim Sr e pois não tão bem que até para desconhecidos falo isso, de tão rotineiro que ficou. Já acostumei com o frio do ar condicionado que antes me irritava tanto e já acostumei a me equilibrar em saltos cada vez mais altos e com a dor que fica no pé no fim do dia. Já vi que dormir mais de 6 hrs por noite é coisa de final de semana e o dinheiro que eu ganho vai quase todo para pagar as contas (isso pq eu ainda n casei). Vc percebe então que na verdade as pessoas que mais te amam são os seus pais e todo o resto não está interessado se a sua cabeça está doendo ou não. Vc descobre tb que o lugar em que vc mora não funciona, que a liberdade não existe, pelo contrário, a corda que está no meu pescoço só aperta cada vez mais. A gente começa a ver que somos capazes de coisas que nem imaginamos e somos às vezes tão ruins quanto aquela pessoa que a gente criticava. Enxergamos que a inveja, a ira, a cobiça, a gula, a preguiça entre outros, sim , que isso faz parte de cada um de nós. E ver que aquele deus que eu tinha tanta certeza de que ia me proteger de todo o mal que existe não existe de verdade.Até hoje acho que essa foi a maior decepção da minha vida. Me dói saber que eu estou jogada aqui por algo que eu não sei o que é e que a qualquer momento eu posso morrer e aí pra todo o resto é como se eu nunca houvesse existido. E aí às vezes eu me pergunto pq q a gente chora, ri, se irrita, se corrói, ama, trai, se no fim td vai acabar. A gente tem tanta coisa pra sentir ainda, mas ao mesmo tempo n temos nada, não somos nada tb. E aí eu quero que se foda aquele professor prepotente idiota e aquele chefe mesquinho e filha da puta, pq eles são bostas assim como eu e não é pq podem usufruir de um vinho melhor que não vão ser comido por vermes. Quero que se foda essa burguesia nojenta e brega ( ah vai gente, quer coisa mais brega que tentar ser chique?). Como dizia o poeta, melhor deixar essas pessoas sentadas com as suas caras tristes fingindo que a gente não existe, pq na verdade daqui a alguns anos, eles tb não vão mais existir.